Monday 25 May 2009

Cannes

fechou e o júri presidido pela Isabelle Hupert dá a palma d'ouro ao Haneke? Só estou a constatar a curiosidade.
Mais importante é no entanto o prémio para melhor curta-metragem que caiu para o português João Salaviza. Um jovem realizador que eu conheci quando ainda frequentava a Escola Superior de Teatro e Cinema, estava ele no segundo ano, onde me lembro bem de uma pequena curta que na altura fez e que já demonstrava um talento para a observação psicológica das suas personagens. Resta dizer que este prémio de melhor curta-metragem é o mais alto alguma vez ganho por um português.
Muitos parabéns, Salaviza.

Thursday 21 May 2009

Let the right one in (2008)

de Tomas Alfredson

No espaço de dois anos o mito do vampiro foi reinventado pela máquina norte-americana na tentativa de apresentar a um público novo uma deturpada visão da criação de Bram Stoker. Falo aqui de 30 dias de noite, crepúsculo e true blood. Destas três só a segunda conseguiu, por razões exteriores, perpetuar-se embora seja a série de Alan Ball que melhor sabe apropiar-se do tema para benefício próprio.
Não sendo uma resposta sueca à vaga americana, Let the right one in é, no entanto, a melhor opção para quem procura por um tratamento com respeito. O que o move não é o fogo-de-artifício dos outros filmes nem a sexualidade pulsante da série, mas uma maior ambiguidade nas intenções das suas personagens e um fatalismo final, mesmo quando este também é por si só muito ambíguo. Alfredson baseia-se num livro sueco que segue um pré-adolescente anti-social e uma jovem vampira que se muda para o apartamento do lado. Antes de ser 'só mais uma história de amor', que a própria narrativa não deixa ser embora a realização o pareça transparecer, let the right one in é primeiro um desesperante exercício de contacto humano físico e emocional. Oskar, tão bem representado pelo estreante Kåre Hedebrant, não nutre simpatia nenhuma ao espectador tornando ainda mais justificável a sua amizade com Eli, outra grande estreia de Lina Leandersson. Aos poucos as intenções dos dois começam a ser expostas, Oskar só quer a sua vingança infantil e Eli precisa de alguém que substitua o seu anterior 'pai'. A única razão porque eles conseguem sobreviver é exactamente pela impossibilidade de haver contacto físico, estes pré-adolescentes deveriam estar com as hormonas a fazer continência mas nem Oskar é um jovem normal, nem Eli uma rapariga comum (e não falo só do facto de ser vampira). Por comparação, numa das cenas mais bonitas, a nível estético, do filme, uma outra vampira não consegue lidar com a sua nova condição exactamente devido ao apego emocional.
Let the right one in não é a nova vaga de culto que anda a ser publicitado, mas uma interessante adição à cinematografia sueca pós Bergman. Entre este e Anders Thomas Jensen, a Suécia está a tornar-se numa ponte entre a elite e o paracinema.

João Bénard da Costa 1935-2009

Hoje procuramos todos por uma cópia d'A Palavra do Dreyer, do Johnny Guitar do Ray, d'A Desaparecida do Ford ou d'Os Vampiros do Carpenter.
Descanse em paz.

Wednesday 20 May 2009

Em Cannes

foi apresentado o novo filme do sueco Lars Von Trier que, se não ganhou o consentimento da crítica como na sua época entre o Europa e o Dancer in the Dark, pelo menos promoveu uma discussão acessa entre os jornalistas presentes da Croisette. O Le Film Français diz que este O Anticristo prova que Von Trier é 'merde', o Roger Ebert não consegue parar de pensar nele e o João Lopes chama-o de um 'prodigioso objecto de cinema'.
Independente às diferentes opiniões parecem estar os jornalistas designados para a conferência de imprensa que saíram tão indignados com o Von Trier pessoa como pareciam estar com o Von Trier artista depois do filme. Quando salta a pergunta sobre o significado do filme e todos os porquês, o realizador responde ao auto-denominar-se de melhor realizador de sempre. Ora resposta mais que válida para uma cambada de profissionais da indústria que ainda não perceberam que um realizador não merece ser abordado com o significado da sua obra para gáudio deste circo. Ainda por cima na meca do auteur glamorizado, é como cuspir no prato que lhe for oferecido e depois interrogar o cozinheiro pelo uso excessivo de açafrão.
Se a crítica chegou a este ponto, que glorifica violência pelo carácter extra-sensorial como se fosse novidade, que renega por recusar ser confrontada com a brutalidade humana como se fosse só um passo para o 'schock-value', ou que tem preguiça de analisar uma obra com um fio narrativo específico, então porque ainda existe?
Ebert, Lopes e o analista do Le Film Français pelo menos apresentam duas versões opostas do expectro que merecem devido reconhecimento. O resto nem pensamento crítico, nem pensamento analítico. Só eteceteras.
Fica o trailer do que nos espera


Fico com vontade de entrar na discussão