Thursday 21 May 2009

Let the right one in (2008)

de Tomas Alfredson

No espaço de dois anos o mito do vampiro foi reinventado pela máquina norte-americana na tentativa de apresentar a um público novo uma deturpada visão da criação de Bram Stoker. Falo aqui de 30 dias de noite, crepúsculo e true blood. Destas três só a segunda conseguiu, por razões exteriores, perpetuar-se embora seja a série de Alan Ball que melhor sabe apropiar-se do tema para benefício próprio.
Não sendo uma resposta sueca à vaga americana, Let the right one in é, no entanto, a melhor opção para quem procura por um tratamento com respeito. O que o move não é o fogo-de-artifício dos outros filmes nem a sexualidade pulsante da série, mas uma maior ambiguidade nas intenções das suas personagens e um fatalismo final, mesmo quando este também é por si só muito ambíguo. Alfredson baseia-se num livro sueco que segue um pré-adolescente anti-social e uma jovem vampira que se muda para o apartamento do lado. Antes de ser 'só mais uma história de amor', que a própria narrativa não deixa ser embora a realização o pareça transparecer, let the right one in é primeiro um desesperante exercício de contacto humano físico e emocional. Oskar, tão bem representado pelo estreante Kåre Hedebrant, não nutre simpatia nenhuma ao espectador tornando ainda mais justificável a sua amizade com Eli, outra grande estreia de Lina Leandersson. Aos poucos as intenções dos dois começam a ser expostas, Oskar só quer a sua vingança infantil e Eli precisa de alguém que substitua o seu anterior 'pai'. A única razão porque eles conseguem sobreviver é exactamente pela impossibilidade de haver contacto físico, estes pré-adolescentes deveriam estar com as hormonas a fazer continência mas nem Oskar é um jovem normal, nem Eli uma rapariga comum (e não falo só do facto de ser vampira). Por comparação, numa das cenas mais bonitas, a nível estético, do filme, uma outra vampira não consegue lidar com a sua nova condição exactamente devido ao apego emocional.
Let the right one in não é a nova vaga de culto que anda a ser publicitado, mas uma interessante adição à cinematografia sueca pós Bergman. Entre este e Anders Thomas Jensen, a Suécia está a tornar-se numa ponte entre a elite e o paracinema.

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